JUDEN RAUS!
Aluna Muçulmana Rapou o Cabelo para Continuar a Estudar
Sexta-feira passada, Cennet, de 15 anos, apresentou-se no liceu de Estrasburgo de cabeça rapada, esperando assim ser aceite nas aulas sem violar os princípios da sua religião, que lhe recomendam não mostrar o cabelo. «Rapei o cabelo para obedecer a duas leis: à lei de Deus e à lei francesa», explicou esta aluna muçulmana, de origem turca, que usa o véu desde os 11 anos.Com a entrada em vigor da lei sobre os sinais religiosos ostensivos, no começo deste ano escolar, Cennet pensava ter encontrado uma solução ao apresentar-se à entrada do liceu, a 2 de Setembro, com um chapéu na cabeça. O reitor pediu-lhe para o retirar, e perante a recusa da aluna, instalou-a a estudar na biblioteca. Seguiram-se três semanas de diálogo entre a direcção do liceu e a aluna, em conformidade com a directiva de aplicação da lei. Mas o bloqueio era total e Cennet estava ameaçada de expulsão.
A jovem de 15 anos, que recusa seguir o ensino por correspondência - cujos custos são pagos pelo Estado nos casos em que o não respeito da lei sobre os sinais religiosos provoque a expulsão dos alunos - quer antes de mais estudar numa sala de aulas com outros colegas. Única menina de uma fratria de cinco rapazes, Cennet não conta com o assentimento nem da mãe, nem do pai e ainda menos dos irmãos na sua resolução de usar o véu. «Mas esta decisão é dela, e o nosso dever de pais é darmos-lhe o nosso apoio», disse a mãe à agência Reuters.
Este caso algo triste é uma excepção nesta «rentrée» escolar que prometia ser explosiva com a entrada em vigor da lei sobre os sinais religiosos. Mas o rapto de dois jornalistas franceses no Iraque, e a exigência de anulação da lei feita a Paris pelos seus captores, o grupo islamita radical «Exército Islâmico no Iraque», mudou completamente a situação.
A comunidade muçulmana, que se sentia particularmente visada pelo texto legislativo - mesmo que ele se aplique a todas as religiões -, mobilizou-se inteiramente a favor da libertação dos jornalistas e contra a reivindicação dos raptores. Nestas circunstâncias, nenhuma família desejou entrar numa prova de força com o Estado.
Há apenas 28 casos de bloqueio recenseados, actualmente, em toda a França. Em geral, todos os alunos podem usar os sinais religiosos que desejarem, devendo retirá-los apenas à entrada do estabelecimento escolar público. Um mês depois da entrada em vigor da lei, os jovens que mais sofrem são, afinal, os "sikhs", a quem a sua crença religiosa impõe nunca cortar o cabelo e de o cobrir obrigatoriamente com um turbante.
(in Público, 3 de Outubro de 2004)
Esta notícia merece-me dois comentários.
1. As consequências da segregação começam a fazer-se sentir. Para uma muçulmana, a única forma de compatibilizar a sua fé e a lei -- porque pretende, livre e voluntariamente e no cumprimento dos ditames da sua fé, usar o véu -- é rapar o cabelo. Essa é a única forma de entrar numa escola pública francesa. Ou seja, é perfeitamente razoável, em França, adoptar leis que geram, em nome de uma suposta secularidade, auto-mutilações físicas. O filme não é novo; mas em todo o caso, uma salva de palmas para o governo francês...
2. Destaque merece também o tratamento tendencioso da notícia (cujas partes mais gritantes não deixei, nos últimos três parágrafos, de sublinhar).
O caso é «algo triste». Causa alguma sensação -- mas não muita; não demais. Não é muito importante, é só uma rapadela numa selvagem apegada ao seu totem. Além disso, foi uma excepção, o que demonstra a perfeição e bondade da lei. Que até os deixa usar isso na rua, só não podem usar é onde estudam... É uma cabotina, é o que é. E só mais 28 pessoas é que deram problemas. Isto num país inteiro! E muita sorte têm, porque os irmãos deles andam a raptar pessoas lá no Iraque e à conta disso deviam era levar nas orelhas. Mas não provoquem o Estado Francês! Caladinhos é que é bonito!..