Peço a Palavra
segunda-feira, setembro 27, 2004
 
Menos uma nuvem
Deve ser duro viver a vida de João Soares. Tem de lutar não com os desafios que a sua própria vida lhe colocaria -- mas os do seu pai. Ou de satisfazer os desígnios que não os dele -- mas os do seu pai.
Este estado constante de viver uma vida que não a sua tem os seus reveses. E certamente também para nós, comuns cidadãos. Porque sofremos os danos colaterais resultantes da sua tentativa de ser alguém, de pensar alguma coisa, de querer chegar a algum lado. Digamos que o seu problema pessoal não é negligenciável -- porque cai em cima de nós.
Bom, cumprindo o seu artificial desígnio, João Soares fez-se ao lugar. Não se lhe viu uma ideia, um raciocínio, um gesto de lucidez, uma proposta de racionalidade. Apenas uma imagem de um homem a cumprir um papel que não é seu, eventualmente interrompida por vómitos de incontido rancor e despeito contra PSL.
Como seria de esperar, este nosso candidato não ficou sozinho na corrida. Mas não se amedrontou. João Soares foi lá. Foi até ao fim. Reuniu 900 votos. Pode agora pegar neles e diluir-se, para sempre e finalmente, no suave conforto do esquecimento. O País também agradece.

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