Peço a Palavra
segunda-feira, setembro 13, 2004
 
Viver a Igreja. E viver na nossa sociedade
Vem este post a propósito do enterro de Luís Nunes de Almeida (LNA). Uma história que retrata a presidência de um homem que vive para complicar. E que demonstra que hoje, em Portugal, ser católico é um desafio.
LNA era maçon. Tinha dito aos seus que era seu desejo, quando abandonasse esta vida, que lhe fossem feitas exéquias fúnebres maçónicas. Disse ainda que gostaria que as mesmas decorressem na sua Loja.
Postas assim as coisas, seria óbvio o desenrolar dos factos. LNA teria as suas cerimónias fúnebres a decorrer pacatamente no local que havia entendido por bem: uma loja maçónica. Pois bem, talvez porque assim fosse demasiado fácil, Jorge Sampaio terá dado instruções no sentido de que as mesmas decorressem na Basílica da Estrela. Aí, um conjunto de maçons encerrou uma capela e realizou actos litúrgicos maçónicos.
Que dizer?
Isto. Que Jorge Sampaio conseguiu, desde logo, contrariar o último desejo de um morto. Mas mais. Que conseguiu ofender toda uma comunidade de crentes -- e isso não está à altura de todos; só os políticos mais inábeis o conseguem. De facto, a Igreja vem afirmando, ao longo de alguns séculos, a incompatibilidade entre a Fé e a crença maçónica, regular ou irregular. Só se pode adorar a um Deus. Sendo os templos da Igreja consagrados com a presença Divina, a adoração de um deus pagão numa igreja é uma profanação desse espaço e, consequentemente, uma violação da integridade religiosa de todo o católico. Para Presidente-de-todos-os-Portugueses, não está nada mal.
Mas merecedor de idêntica atenção é o estado de espírito que este episódio gerou em parte da sociedade -- o qual reflecte o estado de espírito em relação à Igreja.
Demonstrado ficou o respeito que os maçons (ou a sua maioria -- não estou lá dentro para saber) têm pela fé cristã e, sobretudo, pelos cristãos. Ou seja, nenhum. Porque sabem bem que um templo é um local devotado a uma certa crença que merece o maior respeito da parte daqueles que não professam essa religião. Tanto assim é que têm os seus locais de culto e a sua liturgia defendidos pelo secretismo.
Mas ficou ainda demonstrado, através do silêncio comprometido, os olhos com que o resto da sociedade vê a Igreja. Um local de culto da Igreja é profanado? "Tudo bem, não há crise. Os católicos são muito esquisitos, não tem mal nenhum". Não há quem levante a voz em desaprovação. Mas tivesse ocorrido a situação inversa e lá teríamos as habituais sumidades espumando o fervor anti-clerical, a história do salazarismo bafiento e tudo o resto.
Utilizam-se hoje, claramente, dois pesos e duas medidas no juízo social e público dos actos de quem é católico e de quem não o é. À Igreja, tudo se permite que se lhe faça. Parece que é uma pessoa que tem uma dívida histórica à Humanidade que só uma infindável sucessão de abusos pode saldar. Porém, já a tudo o que é novo a palavra de ordem é "liberalidade". Quando o Santuário de Fátima é apontado, numa publicação da responsabilidade de um grupo de homossexuais, como um destino turístico gay, a reacção dos meios de comunicação social é contar a coisa por entre sorrisos e piadas cúmplices -- como se o facto fosse uma mordaz sátira do destino e como se uma vivência sincera da Fé fosse uma impossibilidade natural.
É certo que, para o católico, a Igreja não é um edifício. A Basílica bem pode ruir. O templo está em cada um de nós. Nós somos a Sua Igreja. E como já disse antes, "felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque grande será a vossa recompensa no Céu; pois também assim perseguiram os profetas que vos precedera". Mas se, em consciência, não quiserem perseguir alguém somente por força da sua fé, por favor, não profanem os nossos templos onde o Santíssimo se encontra em exposição.

Comments:
Meu caro Tiago,
Apoiado!
Enfim, a maçonaria já não é a carbonária! No entanto recordo-me sempre da expulsão dos vendilhões do templo por Jesus Cristo! É curioso ver que o Cardeal Patriarca fala em tolerância nas cerimónias fúnebres, mas evidentemente que o paganismo deve ser banido dos templos católicos! Será que o GOL permitiria uma cerimónia religiosa na sua sede?
 
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