segunda-feira, maio 24, 2004
O valor das palavras
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Noticiário das 13 horas de Sábado, na «Today FM», na Irlanda:
"Five people died in Baghad today, after a suicidal attack [...]";
"A young girl was killed by Israelian forces early this morning, in Jaffa [...]".
Continuei a conduzir. Para confirmar que pouca coisa nesta vida é inocente -- e sobretudo na comunicação social --, o noticiário das 14 horas abre assim:
"Two young men died on a car crash near Killarney a few hours ago [...]".
A subtil diferença entre "killed" e "died". Nos acidentes, como um acidente automóvel ou como um ataque suicida, as pessoas "morrem". É uma fatalidade, acontece. É uma daquelas coisas, inócuas... They died...
Já em Israel, as forças ocupacionistas "matam". A rapariga foi assassinada. Killed.
É claro que a rapariga foi assassinada. Mas uma informação imparcial exige que não se criem ambiguidades de sintaxe: aqueles cinco iraquianos também foram assassinados.
Mais grave ainda é o facto de esta postura tendenciosa -- subtil e não assumidamente tendenciosa -- ser um procedimento habitual dos meios de comunicação social.
Resta dizer que a «Today FM» é a rádio mais ouvida da Irlanda. É verdadeiramente e em todos os sentidos, portanto, a TSF deles...